domingo, 8 de junho de 2008

Rios pedem socorro na Região Metropolitana de Fortaleza


Uma bela e completa matéria da Jornalista Yanna Guimarães da Redação do Jornal o POVO, no Caderno Ciencia e Sáude, da Semana do Meio Ambiente, traz à discussão sobre como os rios mudaram de papel ao longo dos anos com o crescimento desordenado das cidades. Eles auxiliam o equilíbrio ambiental. Mas estão sendo sufocados pela poluição e ocupação das margens. A boa notícia é que esse quadro ainda pode ser revertido.

Está nos livros de história. O início da grande maioria das cidades se dá bem próximo a algum rio. Isso porque ele proporcionava locomoção, defesa em caso de guerras, água potável e comida. Além de diversão e lazer. Proporcionava. Com o crescimento acelerado e descontrolado das cidades, principalmente das metrópoles, os rios deixaram de ser fonte de vida para virarem depósitos de lixo. E isso não é privilégio de locais mais pobres. O problema ocorreu tanto em rios famosos como o Tâmisa, em Londres, e o Sena, em Paris, como no rio Tietê, em São Paulo. E os rios de Fortaleza não ficam atrás, também estão sofrendo as conseqüências da poluição.
Foi às margens do riacho Pajeú que tudo começou oficialmente. Lá, Fortaleza se desenvolveu a partir do primeiro forte definitivo, o Schoonenborch, fundado pelos holandeses em 1649. "Cinco anos depois, o forte foi retomado pelos portugueses, que o rebatizaram de Nossa Senhora da Assunção", descreve o professor de História Paulo Humberto Garcia. Mais de 350 anos se passaram. Hoje, pouco se vê do riacho Pajeú. Com cerca de cinco quilômetros de extensão, está praticamente imperceptível para a cidade. Suas nascentes estão aterradas para a implantação de edifícios. Ficam abaixo das ruas Silva Paulet, José Vilar e Bárbara de Alencar. Corre em galerias e canais, com apenas pequenos trechos em leito natural, a maioria em terrenos com acesso restrito.
Além do riacho Pajeú, lembrado bem por Luiz Gonzaga na música Riacho do Navio, pela cidade passam outros dois riachos, o Jacarecanga e o Maceió. Mas é a situação dos quatro grandes rios de Fortaleza que preocupa ambientalistas e geógrafos. O Cocó, o Ceará, o Maranguapinho e o Pacoti estão pedindo ajuda. Isso é demonstrado pelo desaparecimento de algumas espécies de peixes e aves, relatados por quem vive e depende desses rios.

O geógrafo Lutiane Almeida, que está escrevendo sua tese de doutorado sobre os rios urbanos, afirma que os principais problemas são a forte incidência de lançamento de esgotos sem tratamento e efluentes industriais, grande acúmulo de lixo e ocupação desordenada das margens. "Tudo isso causa a degradação da qualidade da água e destrói a mata ciliar. Além disso, o lixo causa o assoreamento do rio. Ele vai ficando mais raso". Ele explica que o rio funciona como canal de escoamento da cidade. Quando ele não cumpre seu papel por causa desses impedimentos, ocorrem as inundações. "Destruir os rios é como dar um tiro no pé", conclui. Outro problema que vem com essas ações é o aumento da temperatura.
Para o professor de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Sales, que participou do Inventário Ambiental de Fortaleza, realizado em 2003, as pessoas sempre entenderam o rio como fonte de água, de sobrevivência. "A questão é que, nos últimos 40 anos, a população urbana mais do que duplicou. E somente nos últimos 20 anos surgiu o interesse pela preservação ambiental". Para se ter uma idéia, esses quatro rios têm capacidade suficiente para abastecer toda a Capital, como era feito no início da fundação da cidade. Mas o alto índice de poluição não permite mais isso. A água que abastece Fortaleza vem do sistema hídrico formado pelos açudes Pacoti/Riachão, Gavião e Pacajus.


Se é possível reverter esse quadro? Sim, mas somente com muito dinheiro esses rios poderão voltar a ser fonte de água para a população. Segundo os ambientalistas, talvez não compense mais. Uma saída é mudar o cenário nos arredores desses rios. Transformá-los em espaços públicos para o uso comum. Deixar de jogar lixo, impedir que as grandes indústrias os poluam e transferir a população ribeirinha para outro local já podem trazer grandes resultados. Mas tudo só começa com a conscientização de todos.

Da nossa parte agradecemos a atenção, por termos podido colaborar na montagem da matéria. Imagem da capa do Jornal O POVO, deste domingo, dia 08/06/ 2008. Reproduzida unicamente para divulgação.

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