O Ceará tem poucos vestígios da Mata Atlântica, outrora estendida do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, margeando o litoral brasileiro.Torna-se difícil acreditar como destruir tanta riqueza em fauna e flora, diante do remanescente de apenas 7% de sua vasta dimensão. O mais grave é não haver condições de recuperá-la.
O Maciço de Baturité, a Chapada do Apodi, a Serra da Meruoca, a Chapada do Araripe e a Serra da Ibiapaba são resquícios remotos da Mata Atlântica, além de cadeias de montanhas de menor porte, espalhadas pelo Sertão Central. Essas elevações são verdadeiros oásis, contrastando com a secura do semi-árido.
O presidente da República vem de sancionar a Lei 11.891, criando a 300ª unidade de conservação do País, na Serra da Meruoca, a ser gerenciada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade. A intervenção do poder público promoverá alterações substanciais numa área de 600 hectares, onde estão concentrados os maiores recursos em fauna e flora da região.
As Áreas de Proteção Ambiental, embora integrando a administração federal descentralizada - teoricamente mais flexível - sofrem com a carência de recursos financeiros para custeio de seus serviços e a recuperação das bases físicas degradadas.Esse quadro de inação se deve, em grande parte, a problemas de gestão. Bem administradas, elas seriam auto-suficientes, tornando-se espaços públicos de visitação, com a oferta de trilhas, passeios e excursões dirigidas, apoiados por serviços de alimentação e repouso.
Falta ao governo visão para dinamizar os bens tombados como parte do patrimônio nacional, por suas riquezas finitas, decorrentes do processo continuado de depredação e da falta de informação sobre seu valor científico. Esses sítios privilegiados, ultimamente transferidos para o Instituto Chico Mendes, poderiam ter fontes de renda para manutenção e investimentos.Na prática, ocorre o contrário.
A Área de Proteção Ambiental do Araripe (APA), a primeira instituída no País, na década de 40, estaria tendo sua cobertura vegetal destruída por incêndios criminosos para a extração de lenha. As fontes d´água da Serra teriam igualmente destino parecido com a “privatização” de seus recursos hídricos.
No Maciço de Baturité, a destruição do verde não foge à regra. Agora, para atender à expansão urbana, depois que Guaramiranga se transformou em pólo turístico.As autoridades têm concentrado suas atenções nos empreendimentos imobiliários, que descaracterizam o meio ambiente. A nova Área de Proteção Ambiental da Meruoca quer garantir a conservação dos remanescentes de flora e fauna, a qualidade de vida da população e dos recursos hídricos. Abrangendo partes dos municípios de Sobral, Alcântara, Massapê e Meruoca, nesse novo santuário serão proibidos caça de espécies raras, uso de inseticidas e retirada de material rochoso das encostas das bacias dos rios. Em boa hora, é mais uma mancha verde protegida.
Vigoroso Editorial do Jornal DIARIO DO NORDESTE, com data de hoje, 30 de Dezembro de 2008. Reproduzido para divulgação. Direitos autorais preservados.
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