Estudo recente determina que a preservação de reservas indígenas e de áreas de conservação ambiental, que juntas ocupam cerca de 37% da região, barraria processo de savanização da Amazônia. O estudo, publicado nesta última segunda-feira, 15, pela revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), avalia que há um “ponto sem retorno” do desmatamento - se ultrapassado implicaria num processo de transformação da floresta em cerrado.
Foi realizada uma simulação matemática do que aconteceria se 63% da floresta desaparecesse, restando apenas as matas das reservas indígenas e unidades de conservação. O resultado foi que, embora as populações locais e a biodiversidade sejam danificadas, o restante da vegetação protegida não entraria em colapso com o desmatamento. Claudio Belmonte de Athayde Bohrer, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coautor do artigo diz: “percebemos que haveria uma variação relativamente pequena no regime de chuvas, mesmo se só sobrassem as áreas de preservação”. “Com algumas exceções, seria insuficiente para provocar uma alteração na vegetação”. Para Bohrer, estas áreas representam o mínimo a ser preservado. “As atuais unidades de conservação oferecem uma proteção mínima, mas é preciso que o governo garanta sua efetividade”.
Já outro estudo realizado no ano passado pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilvan Sampaio, mostra dados divergentes. Para ele, caso a devastação florestal alcance 50% de área processos de savanização poderão ocorrer no leste e sul da Amazônia.
William Balée, antropólogo americano, defende no trabalho “Biodiversidade e os Índios Amazônicos”, que “as práticas de manejo dos recursos de índios horticultores ou coletores na Amazônia de hoje são menos destrutivas para o ambiente, segundo qualquer critério, do que a dos nossos vorazes Estados nacionais com sua economia baseada na queima de combustíveis fósseis”. O pesquisador afirma que podemos aprender muito com os índios sobre como preservar a Amazônia. Tanto os povos pré-colombianos quanto os atuais que habitam a região amazônica são responsáveis pela preservação da floresta e pela manutenção da biodiversidade em seus territórios através da utilização sustentável dos recursos.
As alterações ambientais empreendidas pelas sociedades indígenas não se comparam com aquelas causadas pela indústria moderna. Índios agricultores contribuíram inclusive para o aumento da biodiversidade através da domesticação de algumas espécies de árvores, principalmente frutíferas.
Os solos da floresta amazônica normalmente são ácidos e pobres em nutrientes. Porém, em áreas onde ocorreram habitação e horticultura de povos pré-colombianos, existe um solo mais fértil, menos ácido, com alto teor de macro e micronutrientes, conhecido por “Terra preta”. Estas terras são consideradas reservatórios de agrobiodiversidade, abrigando variedades genéticas mais primitivas de espécies domesticadas economicamente interessantes. Todavia, os cientistas ainda não sabem ao certo os processos que deram origem a esses solos, o que torna necessário mais estudos na região.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as pesquisas, juntamente com a manutenção de reservas indígenas e das áreas de conservação ambiental, constituem eixos importantes na exploração da Amazônia. Elas são responsáveis pela coleta de dados e contribuem para a resolução de problemas logísticos de falta de acesso e infra-estrutura, além de servirem como alternativa de sustento sem destruir a floresta para as populações locais, através de capacitação e treinamento.
Texto de Raul Galhardi Pinto, estudante de Jornalismo e participante do Projeto “Repórter do Futuro: descobrir a Amazônia, descobrir-se repórter”, curso de complementação universitária realizado pela Oboré – Projetos Especiais em Comunicações e Artes que visa aproximar estudantes de jornalismo da realidade amazônica.
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