Deu na Coluna VERTICAL S/A do Jornal O POVO, em 10/08/2009:
Água é o tema do Anuário do Ceará deste ano. O capítulo autoral é dedicado a um percurso histórico pelo Nordeste, desde as raízes da literatura sobre a região, com inspiração na miséria da caatinga. Um álbum de retratos repleto de tons cinza a desenhar paisagens, carcaças e desesperanças, como bem descreve o texto de “A história da Água no Ceará. E o Sertão virou mar”. Este é o título do primoroso texto assinado por Ana Mary C. Cavalcante no Anuário do Ceará 2009-2010, a ser lançado hoje à noite, às 20 horas, no La Maison Dunas. No dizer do agrônomo Paulo de Brito Guerra, em “A Civilização da Seca” (Dnocs, 1981), citado por Ana Mary, a “Seca Grande” de 1877 foi a maior catástrofe ocorrida na região. Morreram mais de meio milhão de pessoas. E pior do que a falta d´água era a falta de assistência dos governos. Até 1845, descreve Guerra, a política pública se limitava à distribuição de esmolas, passando-se à construção de cadeias e igrejas, para dar trabalho aos flagelados.
Em todo caso, como destaca o economista Cláudio Ferreira Lima, também consultor editorial do Anuário e fonte do capítulo, ainda nos anos 1800, a chamada “Seca Grande” tangeu o governo imperial para o Nordeste. Ele diz que “o grande flagelo do Norte”, como passa a ser chamado, e torna um problema nacional. Foi quando Dom Pedro II criou a Comissão Imperial de Inquérito, em cujo relatório ficou recomendada a melhoria do sistema de transportes e, sobretudo, a construção de açudes. Depois, o imperador nomeia comissão de engenheiros para percorrer a província do Ceará e estudar meios de abastecimento durante as estiagens, bem como um sistema de irrigação. Era o esboço do que viria a ser o atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Para combater os efeitos da estiagem no Nordeste, o Dnocs ainda tem de matar um leão a cada dia dos 100 anos do órgão.
No subcapítulo Cronologia das Águas, com os principais fatos relacionados à água no Nordeste, a contagem tem início em 1583. Foi o ano em que pesquisadores apontam como a data mais remota que se tem notícia de seca no Nordeste. O ano da graça de 1999, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, assinou Medida Provisória 1.795, extinguindo o Departamento. Foi a mobilização de servidores, políticos e empresários que evitou o fim. Pressionado, ao invés de implodi-lo, o Governo reestruturou órgão. A última estação da Cronologia é 21 de outubro de 2009. Marcará o primeiro século do Dnocs. O capítulo é um documento importante para entender o Nordeste.
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