domingo, 30 de agosto de 2009

Bonequeiro retoma o gosto pela arte do mamulengo

A arte original do teatro de mamulengo ainda resiste nas mãos do agricultor aposentado e ator de teatro de bonecos, José Izaquiel Rodrigues, o "seu Zai", de 66 anos, morador do Sítio Cantinho da Barra I, na zona rural deste município. Sem saber ler, improvisa as narrativas cômicas e satíricas entre os diversos personagens que integram o seu acervo particular.

Ele mesmo cria os bonecos, esculpidos em madeira, pintados e manipulados, dando vida à criatividade das histórias que fazem parte do imaginário popular e cultural do sertão nordestino. Nos últimos três anos, seu Zai suspendeu as apresentações. "Resolvi parar", disse. O motivo é evidente: a falta de apoio e estímulo.

A apresentação para a pesquisa do Iphan aconteceu na Capela do Sítio Barra. Foram convidados alunos de 3 a 6 anos, da Escola de Ensino Fundamental José Honório Cavalcante, da mesma comunidade onde mora o artista. O altar serviu de palco, encoberto por uma tenda improvisada. As crianças ocuparam os bancos da igrejinha e revelaram alegria, surpresa e medo das estripulias dos bonecos.

A coordenadora da escola, Francisca de Souza Neta, mostrou-se surpresa e admirada. "Não sabia que tínhamos um artista aqui na comunidade. É uma arte que precisa ser valorizada". Aos poucos, seu Zai foi tirando os bonecos da mala e erguendo-os sobre a tenda. Contava histórias e fazia o diálogo dos personagens, sempre com a participação das crianças.

O principal boneco é Cassimiro Coco, tradicional, que está em todas as histórias, protagonizando situações diversas, com outros personagens: Maria Ciforosa, a namorada, Joana Preta de Caruaru, Soldado Setenta, padre, mãe, noiva, boi, cobra e até uma alma branca. Os bonecos parecem ganhar vida nas mãos do artista popular.Seu Zai veio morar em Iguatu em 1961. Trabalhou muitos anos na colheita de algodão, mas somente na década de 1970 resolveu puxar da memória as apresentações que via no Cariri. Esculpiu bonecos, criou personagens e fez várias apresentações na zona rural. "Muitas coisas mudaram, mas as crianças ainda gostam dessas historinhas, desse tipo de arte. É só começar a fazer que as crianças participam e se divertem", comenta o bonequeiro.

Da mesma matéria do Caderno R egional do Jornal Diário do Nordeste.

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