A porção da Bacia do Araripe no Cariri cearense é reconhecida internacionalmente como uma herança geológica da Terra. Se pudesse falar, seria uma baita contadora das histórias do Planeta. Porém, sem voz própria, precisa ser interpretada e vivenciada pela ação humana. E é justamente essa última que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) faz uma nova avaliação, quatro anos após a visita que resultou na criação do Geopark Araripe.
A auditoria poderá colocar em dúvida a manutenção da unidade cearense como integrante da Rede Global de Geoparks. Pelo menos, para os cientistas, o lugar já conseguiu narrar muitos pontos. Descreveu enormes seres voadores, lembrou como as plantas tiveram a ideia de pôr flores e até disse que, um dia, há muitos e muitos anos, a América e África eram vizinhas. As paisagens que, do verde, passam a criar tons de marrom nesta época do ano, foram apresentadas pela Universidade Regional do Cariri (Urca) à Unesco num projeto que pretendia aproveitar os conhecimentos científicos sobre a relevância geológica e paleontológica da região numa estratégia de desenvolvimento local.
O credenciamento na rede internacional como o primeiro Geopark das Américas e, até o momento, único do Brasil, veio em 2006. No ano seguinte, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), concedeu ao projeto um prêmio na categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico.
Mas a chancela internacional, importante para atrair investimentos públicos e privados, não é definitiva e pode ser perdida caso a equipe de técnicos da Unesco avalie negativamente o desenvolvimento dos trabalhos na região. "A cada período, o programa é auditado por especialistas para verificar o cumprimento das questões propostas na época do seu credenciamento", explica o Professor André Herzog, Reitor da Urca na época da fundação do parque e um dos idealizadores do projeto. Apesar de não manter mais contato com o Geopark Araripe, ele foi conselheiro científico da Unesco na última Conferência Global de Geoparks, na Malásia. "A coisa mais importante do Geopark são atividades. São as visitas guiadas, as iniciativas educacionais, científicas, a troca de informações com outros Geoparks", aponta.
Segundo o gerente do Geopark, Idalécio Feitosa, as visitas guiadas e os projetos educacionais, nas escolas, continuam acontecendo normalmente. O POVO apurou, no entanto, que as atividades que antes dependiam do Museu de Paleontologia da Urca, fechado há um ano para reforma e ampliação, estão desarticuladas. E o desenvolvimento regional, ainda não passa de expectativa.
Apesar de permanecer oficialmente sob a tutela da Urca, o Geopark agora é encarado como um projeto de Governo e deve receber mais de R$ 12 milhões em investimentos em projetos executados nos próximos cinco anos, segundo Emanuela Rangel Monteiro, da Secretaria das Cidades. As ações planejadas contemplam áreas de educação ambiental, preservação e desenvolvimento econômico sustentável, ao gosto da Unesco. No entanto, ela admite que o resultado da auditoria "é sempre uma incógnita".
Reportagem de Larissa Lima enviada ao Caririlarissalima@opovo.com.br Jornal O POVO
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