sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sítio Caldeirão: Romaria destacrá temática ambientalista

A Diocese do Crato promove, no domingo, a 10ª Romaria do Caldeirão, destinada a preservar a memória da experiência comunitária do Sítio Caldeirão, liderada pelo beato José Lourenço, destruída por forças policiais em 1937.

O evento tem na coordenação o Fórum Araripense de Combate à Desertificação, uma entidade formada por ambientalistas, associações comunitárias e representantes de prefeituras, que tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável.O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, de acordo com o agente da Cáritas Diocesana, Alex Josberto Andrade Sampaio, "é um espaço ideal para os gritos e clamores das nossas comunidades de base, expressos na carta política, a ecoar no palco da resistência da comunidade liderada pelo beato José Lourenço".

A romaria será a caixa de ressonância dos assuntos debatidos, esta semana, no Fórum Araripense, quando foram analisados o empobrecimento da terra, a perda da biodiversidade e da identidade cultural, a situação da agricultura familiar, o processo de desertificação, convivência com o semi-árido e a questão indígena e quilombola da região do Cariri, além de oficinas temáticas de educação contextualizada, gênero, agroecologia e economia solidária.Alex explica que, ao longo de seus 10 anos de caminhada, o Fórum Araripense, que se reúne na primeira terça-feira de cada mês, vem sendo reconhecido e respeitado pelos setores públicos e sociedade civil como espaço democrático e legítimo de debates e compromissos para a convivência com o semi-árido, apresentando soluções técnicas e políticas, reforçando consensos para reatar os laços de fraternidade social.

Outro ponto discutido pelo Fórum Araripense que será levado para reflexão durante a romaria é o mapeamento das comunidades de quilombolas no Cariri, promovido pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec). A iniciativa surgiu para acabar com o mito de que não existem negros nem indígenas na região. O Grunec já identificou cinco quilombos nos municípios de Porteiras, Jardim, Jati, Salitre e Várzea Alegre. Há informações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) sobre a presença destas comunidades nos municípios de Crato, Brejo Santo e Aurora. Fontes informais apontam ainda a existência desses povos nos municípios de Assaré, Missão Velha, Mauriti e Potengi.

Segundo destaca o agente da Cáritas, ao visitar as regiões mais empobrecidas do Cariri, na zona rural e também nas periferias urbanas, é marcante a presença negra. Ele lamenta constatar que os índices de analfabetismo são maiores entre os negros e as oportunidades e salários são menores dependendo da cor da pele. "É a discriminação presente, ainda que, muitas vezes, esteja travestida".

O projeto, a partir do mapeamento, objetiva dar mais poder a essas comunidades, para que consigam, a partir do auto-reconhecimento, buscar meios de desenvolvimento com sustentabilidade, mitigando as desigualdades históricas.

Sobre a romaria, Alex volta a destacar o objetivo do evento:lembrar a luta, a resistência e a caminhada de um povo que, de maneira ordeira, buscava a santificação por meio do trabalho agrícola, da oração e da penitência. Para o Caldeirão convergiam levas de romeiros vindos do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, em busca de um pedaço de terra para plantar e viver. A comunidade rural auto-suficiente chegou a abrigar três mil pessoas, que não mais queriam trabalhar para os fazendeiros da região.

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