A Teia 2010, o grande encontro dos Pontos de Cultura, vem reunindo em Fortaleza produtores culturais e artistas de todo o Brasil tem números superlativos. O grande encontro dos participantes do programa Cultura Viva, do Governo Federal, vem reunindo em Fortaleza anunciados 2500 representantes de Pontos de Cultura, vindos de todos os estados brasileiros. Cada um enviou representantes à capital cearense, para o encontro que se iniciou na última quinta-feira e segue até esta quarta, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, no Auditório do Sebrae e em diversos outros espaços da capital cearense.
Nos equipamentos e arredores do Dragão, os números se traduzem em gente, atividades, movimento. Como na abertura da Mostra Artística, noite de quinta-feira última, quando o público deu de ombros para as fortes chuvas que banharam Fortaleza e dançou ao som de atrações como os maracatus cearenses, o cantor e compositor Raimundo Fagner, os capixabas do grupo Manguerê e o carioca B. Negão. Como em um grande congresso estudantil, um clima descontraído, aguçado pela energia da chegada para o evento que só começava.
Já a programação de debates atraiu um bom público na manhã de sexta-feira, em torno de temas como a projeção dos Pontos de Cultura para a América Latina e a troca de experiências entre integrantes de iniciativas tão diversas quanto as reunidas nesse grande emaranhado de ações, projetos, saberes e fazeres artísticos.
Não por acaso, diversidade é a palavra de ordem no evento, desta vez, devido ao aumento do número de pontos, ainda mais multifacetado que em suas edições anteriores, promovidas em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Manifestações da cultura popular tradicional, associações que trabalham com educação musical, instituições de capacitação em produção audiovisual são apenas alguns dos exemplos unidos pela grande rede tecida aos poucos em todo o País, através do reconhecimento desses projetos como Pontos de Cultura pelo Governo Federal, que investe R$180 mil para a estruturação e a ampliação das atividades de cada ponto.
Natural que os gestores do MinC e os representantes dos Pontos de Cultura falem com entusiasmo sobre os resultados do programa. Entre os aspectos destacados, a natureza inovadora da iniciativa, o reconhecimento do Poder Público às ações que a sociedade civil já realiza (em oposição à ideia de um Estado "levando cultura para o povo") e a aposta no protagonismo social, com frutos capazes de justificar o investimento e de causar um impacto concreto não apenas na produção cultural, mas também em qualidade de vida e geração de renda em diversas comunidades.
Mas as loas ao programa Cultura Viva não ficam restritas a seus protagonistas. Ao menos, a se julgar pelos debates da manhã de sexta-feira, aos quais compareceram produtores culturais de outros países latino-americanos, da Europa e dos Estados Unidos. Na mesa de representantes latinos, o Brasil foi apontado como modelo, pela experiência dos Pontos de Cultura e por vir, ainda que aos poucos, aumentando significativamente a participação das atividades culturais em sua economia - segundo os debatedores, em estágio bem mais avançado que o de países vizinhos.
A impressão é confirmada por observadores como a professora e pesquisadora norte-americana Candace Slater, que participou das edições anteriores da Teia. "Aqui o Brasil é apontado como um modelo, como lição para os outros países", ressalta a professora de literatura brasileira na Universidade de Berkeley, na Califórnia, e autora de livros sobre temas da cultura nordestina.
A intelectual, que começou a visitar os Pontos de Cultura em 2007, a pedido do MinC ainda sob a gestão de Gilberto Gil, para opinar sobre a experiência, avalia que o programa cresceu não apenas em número de iniciativas contempladas, mas também em efetividade e organização."A Teia é um exemplo disso. A gente vê uma mudança incrível. No primeiro encontro, em São Paulo (em 2006), houve uma divisão muito grande entre teoria e prática, até com um prédio para cada coisa. Agora é impossível separar as duas coisas", enfatiza."Houve Teias em que tinha tanta coisa que era quase impossível saber o que estava acontecendo. Agora as ênfases estão mais organizadas".
Já o professor Bernd Fichtner, da Universidade de Siegen, na Alemanha, participa do evento pela primeira vez, como observador convidado pelo Ministério, com a missão de escrever um relatório avaliando a experiência. "A primeira impressão é que parece algo realmente revolucionário. Um conceito inovador, complexo de aliança entre cultura e sociedade", destacou o doutor em pedagogia e pesquisador das mudanças nas funções sociais do conhecimento. "Isso vai mudar a sociedade brasileira, porque é inovador, inédito em nível mundial.
"Por sua vez, representantes de Pontos de Cultura estreantes no evento compartilhavam diferentes expectativas. Como Hélio Cavalcante, do ponto Orquestra Jovem de Suzano-SP, participante do Cultura Viva desde 2006. "Trabalhamos com um estúdio musical público, acessível às pessoas, em uma experiência nova. Espero aqui conhecer mais sobre o que está acontecendo de música no Brasil". A programação da Teia segue até quarta-feira, também com atividades como o III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura.
Fonte: Dalton Moura/ Caderno 3/ Diário do Nordeste
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