quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sobre uma visão de futuro para a Praia Mansa

Recentemente o Governo do Estado divulgou que conseguiu na Secretaria Especial dos Portos a concessão de uso e ocupação da Praia Mansa, uma das últimas situações de ocupação rarefeita no extenso litoral fortalezense 34,5 km. E que já estava firmada a intenção de transformar o contexto Praia Mansa em um local de “fun festivals”, como se isto fosse a única e principal demanda qualificada da Capital para aquele ponto extremo da nossa depauperada orla.

Conviria lembrarmos de que o debate sobre uma possível visão de futuro e destino da Praia Mansa surgiu ainda em fins da década de 90 quando se pretendeu posicionar naquela situação o ícone de Fortaleza, monumento comemorativo da chegada do novo milênio, além de equipamento de referência de forma a consolidar Fortaleza como o Portão Atlântico de entrada ao Brasil. Para tanto foi realizado um concurso nacional de ideias com participação de arquitetos e urbanistas de várias partes do País.


A escolha de tal tipologia de modelagem urbanística tem sido adotada por grande parte das cidades litorâneas em todo o mundo, principalmente das que detém localizações de valor paisagístico relevante, como é o caso da Praia Mansa, e situações de vizinhança como a Praia do Titanzinho e do Farol Velho do Mucuripe, este um dos mais antigos monumentos patrimoniais históricos de nossa cidade.


A primeira destas intervenções se deu no Inner Harbour, junto ao Porto de Baltimore, no início da década de 50. A partir daí se propagou por todas as cidades de ambas as costas americanas e canadenses, por extensão. A partir dos 80, este tipo de proposição alcançou algumas cidades europeias e Sidney, na Austrália, que localizou equipamentos de referência junto à orla oceânica local, com a Opera House, mundialmente reconhecida como uma situação iconográfica notável.Na Europa, a requalificação da orla do Tejo, em Lisboa, o consolidou como o maior e mais impressivo exemplo europeu.


Os princípios gerais passam por combinações entre renovação urbanística, proteção e preservação de paisagens impressivas junto às linhas de água, que significaram opções de requalificação urbana e ambiental, resgate de espaços privilegiados, desenvolvimento urbano, turístico e imobiliário para todas as situações notáveis, muitas das quais em processo de franca deterioração urbana e ambiental.


Isto tudo indica que a simplicidade de propor um local para “fun festivals” pode não ser a melhor oportunidade para a Praia Mansa e seu entorno pela forma um “pouquinho” apressada como

foi proposta. Um roteiro mais adequado seria a criação de um grupo de trabalho especial que em prazo viável propusesse soluções firmadas na intenção acertada de colocar a porção mais oriental do litoral municipal no mapa dos lugares reconhecidos de todo o mundo, com o suporte da experiência internacional, evidentemente. Superando as restrições de uma visão de futuro excessivamente nativista.

José Sales Costa Filho

Arquiteto/ Professor da Universidade Federal do Ceará

zesalescosta@ig.com.br

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