segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Degradação ambiental no Rio Jaguaribe ²


O chefe do escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Iguatu, Fábio Bandeira, observa que "infelizmente, as áreas de preservação são afetadas e a situação se agrava a cada ano". Bandeira mostra que "os caçambeiros insistem em extrair areia das barreiras do rio, das áreas de preservação permanente, e os donos de terra destroem a mata ciliar para ampliar a área de plantio".

Quem percorre as margens do Jaguaribe, no município de Iguatu, observa com facilidade o avanço da destruição das barreiras. A cada ano, ocorre alargamento do leito e a destruição de áreas agrícolas. Até a década de 1970, o Rio Jaguaribe ainda guardava vegetação nativa, as barreiras eram protegidas pelas matas ciliares e o índice de poluição era reduzido."Hoje, o leito do rio está muito largo, as barreiras caíram e a destruição é crescente", diz o agricultor, Francisco Oliveira, da localidade de Cardoso. "É preciso que se faça alguma coisa". A observação de Oliveira reflete a necessidade de ações concretas. Entretanto, faltam trabalho e projetos visando à revitalização do rio.Além da destruição de suas matas ciliares, o Rio Jaguaribe recebe diariamente despejos de esgotos de dezenas de cidades e centenas de vilas e distritos rurais. Os dejetos seguem para o Açude Orós, o segundo maior do Ceará. "É preciso construir sistemas de saneamento, tratamento de esgoto nos municípios", observa o agrônomo e ambientalista, Paulo Maciel.

Algumas escolas, instituições públicas e Organizações Não-Governamentais (ONGs) realizam campanhas educativas em datas relacionadas ao meio ambiente. A maioria das ações é voltada para os estudantes, mas os verdadeiros e atuais agressores não são conscientizados sobre o problema. Além disso, os projetos são limitados e ficam apenas no plano das discussões sobre a degradação ambiental, sem ação concreta.Iguatu, pólo regional do Centro-Sul, é uma das grandes poluidoras do Jaguaribe. Os esgotos das residências e do setor comercial são despejados diretamente no leito do rio. O chefe do Ibama também chama a atenção para o Açude Trussu, que é responsável pelo abastecimento da cidade. "As pessoas precisam se conscientizar sobre a gravidade da destruição dos recursos naturais", observa Fábio Bandeira. "É preciso ações concretas para preservar rios, açudes e lagoas".

O secretário de Agricultura de Iguatu, Valdeci Ferreira, lembra que já participou de várias reuniões promovidas pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) e por outras instituições públicas, nas quais o problema da poluição e destruição de matas ciliares e de barreiras naturais do Rio Jaguaribe foram debatidas. "Infelizmente as idéias não saíram do papel, as metas não foram cumpridas. Essa questão demanda grandes projetos e recursos públicos, além de decisão e vontade política em realizar".

Numa faixa de 20km no curso do Rio Jaguaribe, é visível a destruição de suas barreiras naturais, da mata ciliar, do avanço do leito do rio com seus bancos de areia sobre áreas antes agricultáveis. O agricultor José Alves de Macedo, conhecido por Zé da Barra, relembra da época em que o Jaguaribe era cheio de mata, o leito era profundo e mais estreito. "A cada enchente desde 1974 que o rio avança e destrói antigas roças que se transformam em bancos de areia", observa. "Do Barro Alto às Cajazeiras isso está acontecendo a cada ano". A destruição da mata ciliar favorece o alargamento do rio e a invasão de terras agricultáveis.

Reportagem do Diário do Nordeste. Esgoto da Beira Fresca, localizado no Bairro Prado, mo município de Iguatu. Parte dos dejetos da cidade escorrem diretamente para o leito do Rio Jaguaribe, causando poluição no manancial (Foto: Honório Barbosa)

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