A história do Município de Carlinda, no Norte do Mato Grosso, é recente. Embora leve o nome da esposa do capitão Antônio Lourenço Teles Pires, que ajudou a levantar o Rio Paranatinga (atual Teles Pires) no século XIX, a região só foi efetivamente ocupada em 1981. Na época, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) criou ali um assentamento de 89 mil hectares. Com isso, a cidade estava formada, embora só tenha recebido o status oficial em 1994.
Quase três décadas após a chegada do governo, o que se vê são desmatamentos e nascentes assoreadas.Há seis anos trabalhando em Carlinda, o Instituto Ouro Verde (IOV) conhece seus problemas ambientais de cor. “Sempre pensamos nossos projetos de acordo com as necessidades e demandas da população”, explica Alexandre de Azevedo, presidente da entidade. Foi assim que, em 2006, surgiu a idéia de criar um programa para recuperar as nascentes do município, responsáveis por formar tributários importantes do Teles Pires, um dos principais rios do estado. “As pessoas diziam que faltava água em suas propriedades. Identificamos que isso acontecia em virtude dos berços d’água descobertos. Daí, eles secavam”, conta Renato Farias, diretor da Fundação Ecológica Cristalino (FEC), parceira na empreitada.
Depois do pedido, encaminhado pelos moradores, as duas organizações não-governamentais partiram em busca de apoios e patrocínios. Em pouco tempo, fecharam uma parceria com a Fauna e Flora Internacional, organização sem fins lucrativos sediada na Inglaterra que apóia projetos em vários cantos do mundo. A partir deste momento, novas reuniões foram agendadas com a comunidade, que já deixara de ser assentamento para se transformar em um conjunto de pequenas propriedades rurais, para definir estratégias de ação.
A história da degradação de Carlinda se confunde com a chegada do Incra e o início da transformação da área em um grande assentamento rural. Segundo Renato Farias, a prática de utilização do solo se resumia à troca de floresta pelo corte raso. Todos conhecem as conseqüências deste processo de degradação: o solo empobrece, secam os rios e o lençol freático e, com eles, toda a sorte de animais e vegetação disponíveis.
Situado na região da Amazônia Legal, o município deveria proteger 80% de sua área, originalmente tomada por florestas nativas. “Mas nenhuma das 26 propriedades em que trabalhamos mantêm a reserva legal do tamanho que determina a lei”, diz Alexandre, da Ouro Verde. Segundo ele, existe um projeto piloto para recuperação das mesmas, mas ainda é muito pequeno. “Estamos elaborando uma estrutura de agrofloresta, já que os donos dos terrenos querem ver os resultados rapidamente. Portanto, vamos plantar frutíferas ao lado de outras espécies nativas, que possuem um crescimento mais lento”, finaliza.È mesmo necessário.
O Teles Pires, por exemplo, não tem sequer a sua mata ciliar intocada, incluída no Código Florestal Brasileiro como Área de Preservação Permanente. Mas nada tira a animação dos mentores do projeto. Segundo Renato Silva, da Cristalino, o fluxo de água já aumentou nas propriedades cercadas, algo possível graças ao crescimento de árvores, que retêm a água da chuva e devolvem a umidade ideal ao solo. Hoje, já voltaram espécies da fauna como maritacas e garças, e da flora, como cachimbeiro, paineiras e patas-de-vaca.
Excelente reportagem de Felipe para o Jornal O ECO https://www.oeco.com.br/reportagens/ Reproduzida parcialmente para divulgação. Direitos autorais reservados.
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