O Rio Jaguaribe nasce no alto da Serra da Joaninha, em Tauá, e deságua no Oceano Atlântico em Fortim, no Litoral Leste. De um ponto a outro tem percorrido cerca de 670km em metade do território cearense. Nos anos 1700 teve suas terras divididas em sesmarias, ou seja, roubados os espaços dos índios da região — historicamente é nas margens dos rios que se dá o curso principal das primeiras ocupações dos espaços. Ali foram expulsos ou mesmo exterminados os índios tapuias, canindés, icós, janduins, cariris, piacus, cariús e jucás.
Para além disso, havia outras dezenas de povos indígenas que tiveram na beira do Jaguaribe o cenário de extermínio em várias batalhas da famosa e ingloriosa Guerra dos Bárbaros (1650-1720), o maior levante dos povos indígenas contra a colonização do sertão nordeste do Brasil.Cerca de quatro séculos após o extermínio, colonização e sucessivas ocupações econômicas (agricultura e pecuária), o rio que proporcionou a habitação civilizatória ainda é o mesmo que assegura o abastecimento. São dele os dois maiores açudes do Ceará, o Orós e o Castanhão, que ainda levará água para toda a Região Metropolitana de Fortaleza e evitará colapso no abastecimento, tamanha é a relevância do “rio das onças”. As águas das chuvas deste ano empanzinaram o leito, mas esconderam temporariamente uma realidade: um rio assoreado, com bancos de terra em seu leito, tornando-se mais largo e raso, com a “ajuda” das margens destruídas pela ação do homem, que crava estacas de ferro e cimento para sua moradia e é responsável pelos entulhos que, boiando ou afundando, poluem.
“Onde estava o jaguaribano que não compreendeu o que estava acontecendo? Por que cruzaram os braços, por que me viraram as costas, por que perderam o respeito pela vida? Afinal onde está o homem? Onde estão as mulheres? Onde estão os jovens? As crianças? Nas escolas, nas faculdades? Nos campos irrigados, nas indústrias, nos supermercados? No comércio, nos bares, nas feiras? Nas ruas, nas praças, nos campos de futebol? Nas instituições bancárias, nos mercados, nas construções? Nas igrejas, nas festas? Nas emissoras de rádios? Nas câmaras municipais, nas prefeituras, nos tribunais, nos fóruns? E o que fazem?
O que pensam?”, afirma a professora Iolanda Freitas de Castro, do Comitê de Defesa do Rio Jaguaribe em LimoeiroÉ um dos vários comitês que estão sendo criados na Região pelo S.O.S. Jaguaribe, idealizados pelos jornalistas Ivonete Maia e Moacir Maia, e que hoje é uma realidade muito mais ampla com o Movimento dos Povos Unidos, lançado pelo vice-governador, e professor, Francisco Pinheiro, natural do município de Jaguaribe.“O rio sofre com vários problemas, mas eu destaco o assoreamento e a poluição. Existe uma proposta, ainda não formatada em projeto, que é para a recomposição das matas ciliares, e com o movimento dos povos do rio vamos discutir e amadurecer essa idéia, outra questão é a poluição do esgotamento sanitário, mas o governo já está apoiando a construção de aterros sanitários consorciados.
Mas também sofre com a poluição por agrotóxicos e é preciso sensibilidade para tratar disso”, afirma o vice-governador do Estado, que se diz angustiado ao saber que o rio hoje não é o mesmo da infância.Na visita do ministro do meio ambiente Carlos Minc, o vice-governador vai pedir que a pasta federal contemple as ações de preservação do rio em seus recursos financeiros, incluindo-o nos projetos ambientais. Eles estarão reunidos com a sociedade e autoridades locais, na beira do Rio Jaguaribe, no “estacionamento das carroças”, em Limoeiro do Norte, logo mais às 14h30, com apresentações culturais e também o lançamento de um portal na internet para divulgar e articular as ações em prol do rio.
O Jaguaribe é a lua inspiradora dos poetas jaguaribanos. “Meu rio é como se fosse”, diz em verso o Padre Assis Pitombeira, de Limoeiro, continuado na voz de Eugênio Leandro: “rio sem meias palavras/de fúrias napoleônicas. Sangrou, chorou em Orós, saltou cercas em Jaguaribe/ rugiu no Castanhão, acuou em Tabuleiro. Espreguiçou-se nas águas dos espinhos de Limoeiro, até se espalhar nas baixas do Aracati”. “Era solto como um folgoso alazão, conhecia o mar revolto e a revolta do sertão”, lembra o poeta Luciano Maia.
Da mesma reportagem. Vale a pena conferir.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
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