"É necessário ter muito pouco conhecimento do físico da Capitania do Ceará para duvidar das imensas vantagens que ela pode produzir em utilidade dos seus habitantes, aumento do seu comércio e prosperidade geral do Estado". Imbuídos pelas palavras do naturalista João da Silva Feijó, que aqui esteve em 1814, os membros da Comissão Científica de Exploração das Províncias do Norte chegaram em Fortaleza em 4 de fevereiro de 1859, a bordo do vapor Tocantins. Por aqui os cientistas permaneceriam até 13 de julho de 1861. Realizaram incursões pelo interior a fim de promover o mapeamento botânico, geológico, etnográfico, astronômico e geográfico de um Brasil desconhecido de si mesmo, na primeira expedição científica composta, exclusivamente, por pesquisadores brasileiros.
Passados 151 anos do início da expedição, a importância da viagem parece subestimada, assim como as potencialidades do Ceará o foram à época de Feijó. Em parte pelas críticas e cortes orçamentários que sofreu e pela esparsa divulgação dos resultados após o retorno à Corte, o legado das pesquisas realizadas no Ceará ainda carecem de um estudo mais aprofundado e interdisciplinar. Uma tentativa de incentivar esta pesquisa é o livro "Comissão Científica do Império, 1859-1861", organizado pela historiadora Lorelai Kury, pesquisadora e professora da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).
"Hoje já existem bons trabalhos sobre a Comissão Científica, mas a maioria encontra-se espalhada e acessível a um público restrito. Perdemos uma grande oportunidade em 2009, com os 150 anos do início da expedição. Poderíamos ter divulgado o conjunto dessas pesquisas com um grande seminário. Acredito que ainda falta uma avaliação mais global sobre o tema, porque a Comissão Científica abre possibilidades para pesquisadores de diversas áreas, desde estudos biográficos dos membros da expedição até uma avaliação ampla do que foi essa viagem exploratória", opina.
Segundo Lorelai Kury, a ideia de uma publicação surgiu a partir das pesquisas para as exposições "O Brasil Redescoberto" e "A Ciência das Viajantes", realizadas em 1999 e 2001, respectivamente. O livro centra foco no campo da história das ciências naturais, trabalhando os resultados científicos mais evidentes trazidos pelos membros da Comissão Científica, em especial os aspectos botânicos, geográficos, zoológicos e etnográficos (com o estudo das populações indígenas locais e do Norte).
Apesar de reunir textos inéditos de cinco pesquisadoras, Lorelai Kury explica que o grupo foi reunido a partir da experiência no trato com os temas que abordam, proporcionando uma visão de conjunto da Comissão. "Tentamos reunir não a totalidade dos resultados, mas o máximo de um panorama dentro dos estudos já desenvolvidos por mim e pelas demais pesquisadoras, que se apresenta de forma homogênea. Mas ainda há lacunas, como a parte astronômica e antropológica, áreas muito específicas e que ficaram a descoberto neste trabalho. Mas acreditamos que o livro pode servir de ponto de partida para quem deseja desbravar o tema".
Fonte: Caderno Regional/Diário do Nordeste
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