A Caatinga é utilizada como fonte de energia desde que o sertanejo descobriu o fogo. No entanto muita coisa mudou a partir do momento em que o termo “sustentável” se tornou obrigatório nas políticas sobre o uso dos recursos naturais. Mudanças criam polêmicas. De um lado os preservacionistas, contrários a ideia de se usar catingueiras, juremas, marmeleiros e outras árvores do semiárido como combustível de fornos. O principal argumento deles era a falta de pesquisas sobre o uso sustentável do bioma. Engenheiros florestais procuravam dizer que não é bem assim. Agora, 28 especialistas em manejo florestal reuniram, no livro Uso sustentável e conservação dos recursos florestais da Caatinga, trabalhos que pregam técnicas testadas e apresentam o resultado de campo com até 25 anos de acompanhamento.
O livro editado pelo Serviço Florestal Brasileiro (SFB) do Ministério do Meio Ambiente tem 367 páginas e teve lançamento oficial na terça-feira (dia 23 de março), no Recife. Os capítulos tratam da apresentação do bioma abordando a questão energética e fundiária (temas sensíveis). Também dedica-se a exemplos de gestão dos recursos florestais, mostra várias opções de produção não-madeireira, dá destaque a rede de manejo florestal e explora um estudo de caso de manejo sustentável. São casos acompanhados em Pernambuco, na Paraíba, Rio Grande do Norte, principalmente, mas existem exemplos de outros estados que participam dos 955 mil quilômetros quadrados que caracterizam uma região de clima semiárido e por uma vegetação acostumada com o clima seco. Ainda assim, é a região com baixa oferta de água mais rica em biodiversidade do que qualquer outro bioma (exposto às mesmas condições de clima e solo) do mundo – não é só nosso verde que é mais verde. Nossa mata branca também tem mais vida.
O livro não se propõe a por fim a polêmica antiga, mas com certeza será uma argumento forte na mão do grupo pró-manejo. Entre os trabalhos apresentados, também estará munição para o “inimigo”. Por exemplo, o corte raso é defendido no capítulo O manejo florestal na Caatinga: resultados da experimentação, um dos trabalhos que mais veementemente argumenta pela viabilidade do manejo. “As espécies arbóreas dominantes têm desenvolvido adaptações como: alta capacidade de se regenerar por brotação de tocos e cepas e rápida resposta e alta taxa de crescimento em períodos úmidos”.
Com 25 anos de estudo, o trabalho garante que a viabilidade técnica do manejo sustentável do bioma vai além do esperado e diz mais: as taxas de crescimento são altas, quando comparadas com outras florestas; a recuperação dos estoques ocorre em prazos curtos e os “grupos biológicos estudados apresentam níveis de diversidade praticamente iguais nas áreas manejadas e nas áreas conservadas”.
Fonte: O ECO
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