É a festa santa da confraternização que reúne os amigos, os filhos da terra, para alimentar a fé que os liga à sua igreja e fortalecer as raízes que os vinculam ao seu torrão natal. No caminho para Juazeiro, num pau-de-arara ou dentro de um ônibus, se robustecem velhas amizades e se criam outras novas, todos identificados pelo mesmo sentimento: a fé no Padre Cícero.
Um farnel de comida, um chapéu de palha, dinheiro no bolso para trazer lembrança e muita fé no coração. Esta é a bagagem do romeiro. A demanda dos romeiros por objetos religiosos, fitinhas coloridas, estátuas de gesso, quadros, camisetas, além do tradicional artesanato, movimentam a economia local. Para o romeiro, Juazeiro é o empório do Nordeste, o grande shopping center, onde eles se abastecem de tudo, principalmente da fé.
Durante a viagem, eles cantam a música das romarias: “Oh! Que caminho tão longe, cheio de pedra e areia.
Valei-me meu Padim Ciço e a Mãe de Deus das Candeias”. O ritmo dolente da música ecoa nas estradas nordestinas. A alimentação é feita nas sombras das árvores na beira da estrada, ou nos pequenos restaurantes espalhados ao longo do caminho, geralmente com o nome do Padre Cícero. De repente, milhares de devotos chegam a Juazeiro que, para eles, é a cidade santa, a Canaã, a terra prometida.
Ali, eles se acomodam em ranchos: grandes casas coletivas, com muitos quartos. Algumas, com alpendre largo, coberto e com armadores para redes. A alimentação é feita no rancho em fogão a lenha e a carvão. Os ranchos mais novos têm banheiros e sanitários internos, piso de cerâmica, dormitórios com acomodação para seis, oito, dez pessoas, iluminação natural, ventiladores de teto, arejamento, higiene. A cidade abre as portas e o coração para receber os visitantes. Muitas casas são transformadas em pousadas.
Entre os locais mais visitados está a Colina do Horto, na parte mais alta da cidade. No topo foi erguida a estátua do Padre Cícero. Com 25 metros de altura, é a terceira maior estátua do mundo, erguida no local onde o pároco fazia seus retiros espirituais.
Aos pés da estátua muitos romeiros expressam a sua devoção. Uma delas são os nós na fitinha do Padre Cícero. Centenas de fitas são amarradas com vários nós num ponto estratégico da estátua. Os romeiros acreditam que, ao desatar uma fita, estarão sendo desatados também os nós da vida.
De volta a suas casas, nos longínquos rincões do sertão, ou na periferia sofrida das cidades, os romeiros sentem-se felizes, realizados, prontos para enfrentar a dura realidade.
Fonte: Regional/ Diário do Nordeste
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