Povos indígenas do Ceará vão poder ter ensino superior com o curso de Magistério Indígena Intercultural. Promover uma educação específica, que contemple os saberes tradicionais dos povos indígenas cearenses em um curso que conta com a participação dos integrantes das comunidades em sua construção.
Este é o objetivo do curso de Magistério Indígena Superior Intercultural dos Povos Pitaguary, Tapeba, Kanindé, Jenipapo-Kanindé e Anacé (Misi-Pitakajá), oferecido da Universidade Federal do Ceará (UFC).O curso foi aprovado no último dia 24 de março pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da instituição. Este é o segundo curso de graduação dessa natureza ofertado pela UFC, que em 2006 criou o curso de Magistério Indígena Tremembé Superior (Mits).
Os cursos fazem parte do Programa de Formação Superior e Apoio a Licenciaturas Indígenas (Prolind), do Ministério da Educação (MEC). Enquadram-se na modalidade Licenciatura Intercultural Específica para formação de professores em nível superior para escolas indígenas, no Ensino Fundamental e, também, no Ensino Médio.Assim como o dos Tremembé, o projeto político pedagógico do curso para estas cinco etnias foi resultado do trabalho conjunto realizado entre pesquisadores da UFC e, também, representantes das comunidades indígenas. Uma prova dessa parceria é que o curso terá dois coordenadores: Babi Fonteles, do curso de Psicologia do Campus da UFC no Município de Sobral - localizado na Zona Norte do Estado -, e Jeová Pitaguary, que vai representar as comunidades indígenas.
De acordo com Babi Fonteles, está sendo esperado "apenas a liberação dos recursos por parte do MEC para que possamos dar início às atividades letivas, o que deve ocorrer no segundo semestre deste ano".O coordenador ainda informou que o investimento será de R$ 320 mil por ano. "Do ponto de vista da habilitação, a formação dos professores do Magistério Indígena Superior Intercultural será legalmente reconhecida", explica Babi Fonteles.Ele ainda acrescentou que a habilitação não permite a atuação em escolas regulares, mas apenas nas escolas para formação específica de sua etnia.
Outro diferencial do curso, de acordo com o coordenador da Universidade Federal do Ceará, é que toda a formação ocorre dentro do ambiente das aldeias. Além das matérias do currículo regular da formação pedagógica docente, os futuros professores terão, ainda, disciplinas específicas da cultura indígena, como, por exemplo, "Toré - Ciência, Filosofia e Espiritualidade Indígena".
"Essa participação das comunidades indígenas fornece ao curso uma legitimidade e uma matriz curricular que contempla as culturas das etnias participantes", destacou o coordenador Babi Fonteles. Ele lembra que desde o início dos anos 90 existe uma luta das etnias para introduzir, nas escolas, materiais e conhecimentos que não são contemplados pelos currículos do ensino regular, citando como exemplo a Escola Alegria do Mar, instalada na aldeia Tremembé. "Os povos indígenas estão em processo de apropriação das escolas, e desejam promover uma reinvenção dessa escola como instrumento para suas lutas de afirmação étnica", salientou.
De acordo com Babi Fonteles, "é uma conquista que se dá não apenas para escolarizar e fazer uma inclusão nas estatísticas, mas para estabelecer relações mais igualitárias, como uma extensão do espaço de luta desses povos".
Fonte: Diário do Nordeste
segunda-feira, 26 de abril de 2010
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