Diagnosticar a qualidade das ações indutoras que o Poder Público implementa em determinados setores da economia, muitas vezes, não é tarefa muito complexa. Na cadeia produtiva do Turismo basta olhar os agregados turísticos contabilizados ao longo do tempo por Governos e Institutos de Pesquisa. Ministério do Turismo, INFRAERO, FGV e Consultorias especializadas acompanham, com ferramentas de aferição bastante seguras, as variações sofridas pelo segmento, seja por forças de mercado, seja por força das políticas públicas adotadas. Essas duas forças possuem a capacidade de acelerar, ou não, a obtenção dos resultados perseguidos. Neste sentido, faz todo o sentido afastar-se de análises inferenciais e observar indicadores como Fluxos Turísticos Nacionais e Internacional, Receita e Renda Turística, Investimentos Diretos, Impactos sobre o PIB, Interiorização de Fluxos Turísticos, apenas para citar alguns indispensáveis no painel de controle dos Gestores Públicos.
Com exceção da Bahia, somente em tempos recentes os Estados do Nordeste do Brasil passaram a incorporar o Turismo, nossa mais clara vocação econômica, como um motor a auxiliar nos esforços de geração de postos de trabalho e de desenvolvimento econômico. Historicamente, as diretrizes eleitas pela grande maioria dos Estados Nordestinos contemplavam a dupla representada pela Industrialização e pelo Agronegócio. A infra-estrutura era planejada e dimensionada muito mais para atender a essa dupla que para pavimentar o futuro da atividade turística. Contudo, a vocação natural dessa atividade é tão forte que, mesmo ignorada por planejadores e orçamentadores de Governos Estaduais, cresceu muito mais que os setores classificados como prioritários. A massa de trabalho e inclusão social originada pelos não residentes (turistas) foi tão acachapante que fez acordar outros níveis de Governo. Planejamentos Estratégicos para o segmento pipocaram no Nordeste, contudo, sem orçamento para implementá-los, os resultados continuaram, na média, ainda muito reduzidos diante do potencial. O Turismo passou a ser uma prioridade não expressada nos Orçamentos Públicos, mas apenas na retórica dos discursos das Secretarias de Turismo, que, isoladas, não conseguiam mobilizar os governadores para destacar a matéria na Agenda de Governo.
Registre-se que alguns Estados, como o Ceará, passaram a cumprir uma consistente agenda de infraestruturação dos seus pólos, roteiros e regiões turísticas. Nos últimos cinco anos, o atual governador do Estado decidiu materializar obras estruturantes para o futuro do Destino Ceará, a exemplo do que fez o ex–governador César Cals quando construiu, há mais de 30 anos, equipamentos como e Centro de Convenções, Bondinho de Ubajara e a antiga EMCETUR, para citar alguns. O governador Cid Gomes já está na galeria dos notáveis, pelas relevantes obras que poderão alavancar a economia do Turismo no Estado. O respeitável novo Centro de Feiras e Eventos, os aeroportos regionais de Aracati e Jericoacoara, as duplicações das rodovias estaduais e da avenida Maestro Lisboa associadas ao futuro Aquário e a ampliação do Aeroporto Pinto Martins serão um legado que o credenciará a ser reconhecido por todo e qualquer estruturador de produtos e destinos turísticos.
Na contra–mão da elogiável Agenda de Infraestruturação, está a Agenda Mercadológica. Nesses mesmos cinco anos, os desembarques internacionais recuaram 28% contra crescimento de 24% do vizinho Pernambuco. No desembarque nacional, crescemos 53% contra 80% do também vizinho Rio Grande do Norte. Nenhum novo hotel se instalou em Fortaleza nesse mesmo período. Sem demanda a oferta não se apresenta. Os resorts dos municípios praianos vizinhos a Capital, nomeadamente o Aquiraz Riviera – com o Dom Pedro Laguna, e o Villa Galé Cumbuco são investimentos captados no passado que já estavam em estágio de irreversibilidade. Agências de Viagens e Receptivos que comercializavam 10, 12 e até 14 roteiros dentro do Ceará, além de Fortaleza, hoje operam em, no máximo cinco ou seis roteiros. Isso significa que o turista não está mais circulando no Estado, ficando restrito ao surrado modelo sol e praia e nada mais. Nosso trade turístico, com contas a pagar no curto prazo, observa curioso essa dicotomia entre a Agenda Mercadológica e a Agenda de Obras Públicas considerando que as duas não precisam ser mutuamente excludentes.
Não esperemos que a exposição global que uma cidade sede de jogos da Copa do Mundo obtém, seja capaz de resolver, por osmose, nossa deficiência estrutural de comercializar nosso destino e provar para o capital privado que somos viáveis econômica e financeiramente. Isso, daqui a dois anos e meio, quando mencionada exposição estará na sua fase mais aguda. É chegado o tempo de voltarmos a formular novos conceitos, debater e inaugurar um novo modelo de desenvolvimento econômico que seja capaz de diferenciar o Ceará dos demais lutadores que estão apresentando seus músculos e habilidades no Octógono das vantagens locacionais comparativas.
*Allan Aguiar, Consultor, foi Secretário do Turismo do Ceará e de Pernambuco.
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