O turismo no Ceará é uma perspectiva muito pontual e temporária. “… investem muito num curto período e esquecem que o potencial gerador na alta estação deve se perpetuar ao longo do ano”. É o que avalia o professor de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cássio Braz, em artigo publicado neste sábado, no O POVO.
Confira:
A alta estação é esperada por alguns segmentos de nossa economia com muito entusiasmo. Fortemente atrelada à área de turismo o conceito de alta estação vem paulatinamente se transformando através do esforço de algumas políticas para dotar o Estado de uma atratividade mais perene. Entretanto, a ideia de alta estação já está introjetada em nós e em muitos dos nossos empresários e políticos, gerando grandes expectativas.
Cada vez mais o Ceará prepara-se para as visitas externas, mas continua equivocando-se nessa preparação permanente. Aumentamos o policiamento nas áreas turísticas, recepcionamos os visitantes com forró no aeroporto, damos um pouco mais de atenção aos produtos turísticos, mas tudo isso numa perspectiva muito pontual e temporária.
A próxima alta estação deve encontrar um Estado com as tradicionais alternativas naturais – praia, serra e sertão – com boas opções de compras e com uma culinária agradável, embora longe de constituir-se referência. Há uma melhoria em alguns setores, mas em outros continuamos pecando em excesso, tomando como exemplo a prestação de serviços ainda amadora, que confunde qualidade e permissividade e onde a simpatia deixa de ser, cada vez mais, carro chefe na nossa tradição receptiva.
A recepção da Copa do Mundo, a construção de um grande centro de eventos, são ações que já começam a impactar na mudança de paradigma de uma alta estação. É preciso, porém, mudar a mentalidade de muitos dos nossos gestores e empresários, que investem muito num curto período e esquecem que o potencial gerador na alta estação deve se perpetuar ao longo do ano.
Não podemos perder de vista que as férias de uns são a rotina diária de muitos, mas continuamos agindo com a mesma perspectiva da recepção das visitas em nossa casa: escondemos os objetos quebrados e danificados, limpamos as janelas que passam o resto do ano acumulando poeira, introduzimos frutas e bolos ao nosso “café com pão” diário, mudamos os móveis de lugar, mas, com a saída das visitas, tudo isso passa, e, sem percebermos, retornamos ao nosso cotidiano sem luxos e até aos problemas diários, pois já estamos “acostumados”.
Esquecemos que é preciso mudar a mentalidade da alta estação como um período determinado e voltado para os turistas e ampliá-la para todo o ano e para todos os cidadãos que aqui residem. Não podemos avançar como destino turístico se só o somos durante dois ou três meses por ano. Mudando essa ideia, estaremos disponíveis durante os 365 dias do ano, numa parceria perfeita com a natureza – das praias, das serras e dos sertões, dos dias ensolarados, e da temperatura estável; assim também beneficiaremos ao potencial usuário que aqui reside, tornando a alta estação não um período de exceção, mas um referente para o nosso dia a dia.
Fonte: Professor Cássio Braz/ Psicologia UFC. O POVO Online
domingo, 15 de janeiro de 2012
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