Caucaia. Quando o pescador José Moura Gomes, da vila Canaã (Município de Trairi) viu Maria Cardoso, da comunidade dos Caetanos de Cima (Amontada), cantar o coco, ele entendeu que a dança do coco está em todo canto. Ambos do Litoral Oeste, os vizinhos de mar não se conheciam, e dessa forma centenas de pessoas estão se reconhecendo no 1ºEncontro Cultural Povos do Mar, que acontece desde a última quinta-feira em Iparana, Município de Caucaia. Trocando saberes e fazeres, fazendo uma prosa, talvez poesia, juntando as danças, discutindo os desafios de cada um, dezenas de comunidades das vilas praianas encontraram a oportunidade para tratar das culturas, dos problemas e das soluções na difícil arte de lidar com o seu ambiente de vida em meio aos interesses alheios.
As singularidades culturais dos povos que vivem na zona costeira são tão grandes quanto o mar que lhes abastece: gigantes. Comunidades antigas, mas dinâmicas, desenvolvem atividades que alimentam o corpo, desenvolvem a economia, fortalecem as culturas, e matam a sede da alma, esta por meio do reconhecimento das identidades. No Encontro dos Povos do Mar, promovido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), saber e fazer se traduz em oficinas. São muitas, que ocorrem desde ontem em Caucaia. Tem desde o cozinhado tradicional de tapioca, comida de raiz indígena, à produção de mandalas de palha, passando pela produção de pinturas com areia colorida. É quando o artesão de Majorlândia, em Aracati, encontra-se com o fazedor de arte de Flecheiras. O encontro está encurtando os 570km de costa que separam várias comunidades, das quais participam 48, de ao menos 12 Municípios, apresentando suas artes e observando as produções dos outros povos.
A comunidade Jenipapo-Kanindé se reuniu para participar em peso do encontro. "Coisa rara", mas "muito boa", segundo a Cacique Pequena (Maria de Lourdes Alves), que já transferiu a sua liderança para a filha, e mais nova cacique Irê, Juliana Alves. "Aos poucos eu vou repassando as minhas vestes para ela", diz a mãe sobre a filha. As índias Jenipapo-Kanindé se encontram hoje com os outros povos do mar, mas em setembro o encontro é com Dilma Roussef. A etnia está com as terras em fase de homologação e posterior desintrusão. Significa que já conseguiram comprovar a posse de direito da terra.
Hoje pela manhã as atividades começam com o cortejo ecológico do Bumba-Peixe-Boi. Enquanto as oficinas de ontem seguiram o eixo temático de ofícios e artesanatos, durante todo o dia de hoje vão ministrar oficinas de sabores e saberes.
Fonte: Diário do Nordeste
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