O empresário Júlio Trindade, proprietário do Pirata Bar, faleceu no último sábado (30) deixando para trás 25 anos de história de um dos espaços mais famosos da noite fortalezense.
Nesta segunda-feira, em Fortaleza, o tom da noite ficou mais sóbrio. Conhecida como “a segunda-feira mais louca do mundo”, esta semana a cidade se despediu de Júlio Pirata D’Iracema, 65 anos, dono do Grupo Pirata de Empresas, que inclui o Pirata Bar. Vítima de um astrocitoma (câncer cerebral), ele faleceu no último sábado (30), às 23 horas, aos 65 anos. Atento ao que se passava pela cidade, este devoto fervoroso de Santo Antonio abraçou a molecagem cearense e proporcionou momentos memoráveis junto com cantores e humoristas.
Natural de Lisboa, Portugal, Antonio Julio de Jesus Trindade nasceu em 10 de março de 1946, filho de uma camponesa com um torneiro mecânico. “Sou da geração de 60, que viveu muito intensamente a quebra de paradigmas, período em que deixei Portugal, pois não queria servir ao exército em uma guerra colonial na Angola, pois o Rambo americano já é triste, imagine o português”, lembra ele na breve autobiografia que intitulou de “entrevista post-mortem”.
Após deixar sua terra natal em 1964, Júlio passou pela França, Estados Unidos, Canadá, Caribe até chegar ao Brasil em 1981. Chegou pela região Norte e logo se instalou na Bahia, onde montou um restaurante e uma pousada. Atendendo o convite de um amigo, veio conhecer o Ceará em 1985 e bastaram seis meses para que ele viesse de vez para cá. Por aqui, começou do zero investindo o que tinha num barco lagosteiro. “Por onde passei, exerci diversas funções e muitas delas pela primeira vez. Lavei pratos, faxinei banheiros, descarreguei caixas de frutas e legumes no antigo Mercado Les Halles em Paris. Fui recepcionista noturno de hotel, garçom e maitre no Chez Antoine, um restaurante finíssimo de San Martin, no Caribe. Lá, servi grandes personalidades como o ex-presidente Richard Nixon e Jaqueline Kennedy Onassis. Eu tinha um ótimo salário e recebia generosas gorjetas”, conta acrescentando ainda dono de uma banca de jornal e analista de sistema das forças aramadas francesas entre seus ofícios.
Já instalado na capital cearense, Júlio Trindade escolheu um novo recomeço. Apaixonado pela Praia da Iracema, ele instalou ali, em 1986, o Pirata Bar & Resto, em sociedade com o seu único filho, Rodolphe. Sua paixão pelo novo empreendimento e pela Praia era tanto que ele passou a se identificar como Júlio Pirata D’Iracema. O lugar recebeu grandes nomes da MPB, como Oswaldo Montenegro, Cássia Eller e Edson Cordeiro, e cresceu junto com uma geração de humoristas hoje referenciais no Brasil. “Estava começando o humor no Ceará e, como tínhamos menos shows na semana, sempre nos apresentávamos na segunda-feira do Pirata. O Júlio era um batalhador, um guerreiro e sempre abriu as portas para nós”, explica o ator e humorista Ciro Santos.
Também humorista, Falcão é outro que encontrou ali um espaço ideal para suas apresentações. “O Júlio é um dos maiores responsáveis pela minha carreira, depois de mim. Juntos, nós criamos o PCB do B, o Partido dos Cormos e Bregas do Brasil. Ele queria que eu me candidatasse a Presidente da República, em 2002, mas eu tive medo de ganhar”. Junto com Falcão, Júlio montou shows hilários como o Natal do Pirata (feito da noite de 25 de dezembro de 1988 com direito a distribuição de peru) e o show Cheio de Altos e Baixos, com Falcão e Nelson Ned. “Ele ainda queria fazer uma campanha pra levar as Olimpíadas para Pereiro”, brinca Falcão, que agora planeja homenagear o amigo com a gravação de um DVD no Pirata.
A famosa “Segunda-feira Mais Louca do Mundo” do Pirata foi mais uma ideia em que Júlio apostou na vocação de Fortaleza para a festa. Em 5 de janeiro 1987, uma segunda-feira, o Pirata abriu para que fosse realizado uma festa de aniversário. A animação foi tanta que acabou se repetindo na semana seguinte. Com o saudoso sanfoneiro Azeitona e da banda Alta Tensão no palco, o negócio foi dando certo e acabou se tornando uma marca registrada do turismo local. “Ele era muito incentivador da arte. Principalmente nesse período, nos anos 80, ele era um dos grandes incentivadores do movimento artístico cultural local. Todos os artistas, cantores, frequentavam o Pirata”, afirma a cantora e atriz Marta Aurélia. “Para a cultura foi, não só essa historia do forró que ele fazia e de transformar a segunda-feira na segunda mais animada o Brasil, mas também por participar ativamente da história cultural do Estado. Era uma pessoa que abria espaço”, confirma o cronista e compositor Tarcísio Matos.
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Nascido em Lisboa, Portugal, Antonio Julio de Jesus Trindade era dono do Pirata Bar, espaço famoso na Praia de Iracema pela “segunda-feira mais louca do mundo”. Casado com Yane Trindade e pai de Rodolphe Trindade, ele foi um dos incentivadores da cena artística cearense.
Fonte: Vida & Arte/ O POVO Online
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