segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dia da Criança: brincadeira com simplicidade


Amanhã, o Brasil inteiro comemora o Dia das Crianças. Muitos pais investiram tempo e dinheiro procurando um presente para o filho. Bonecas vestidas para praia, de noiva ou mesmo caminhões e tratores, além das várias possibilidades que dispõem os jogos eletrônicos. A procura é por aquele brinquedo ideal e para a felicidade da criança. Na comunidade da Serra do Lajedo, em Maranguape, esta preocupação passou por longe, segundo informações do pesquisador e artista plástico Gandhy Piorsky. É que lá, o brincar é vivenciado na natureza e a partir dos elementos provenientes dela, todos os dias da semana. Em 2006, uma amiga do pesquisador, que conhece a Serra de Maranguape, levou-o até o povoado e a partir daí o vínculo entre eles não se desfez mais. É um campo de pesquisa para o artista plástico. "O nosso próximo passo é arranjar um lugar para o ateliê, que estou chamando de oficina de desmanchar a natureza", contou Gandhy, parafraseando um poema de Manoel de Barros. A ideia é montar um espaço do brincar sem brinquedos prontos. "Durante o projeto, as crianças vão produzir o acervo, mas sem essa dos moldes do brinquedo tradicional. É uma produção deles próprios". A próxima experiência da criançada do Lajedo é fazer uma expedição lúdica pela natureza, potencializando o que já fazem por lá, diariamente: recolher matérias-primas, explorar a floresta e os açudes e, principalmente, brincar. São mais de 100 crianças e adolescentes descobrindo a natureza e os bichos.

Para Gandhy, a experiência do Lajedo representa um dos pontos de resistência do brincar, encontrados por ele, no Ceará. Nesta comunidade tradicional, que vive da plantação de fava, milho e cana, as crianças também são envolvidas nas atividades da agricultura familiar. "Eu desconfio que o brincar é tão vivo por lá, que eu vou pesquisar isto no mestrado. Deve ser por conta do envolvimento da criança na economia familiar, mas não como trabalho infantil, porque elas estudam e brincam. Mas eles auxiliam nessas tarefas da família. E esse núcleo que eles estão é um foco de transmissão de raízes, da infância dos adultos. Por isto há tantos brinquedos e tantos elementos lúdicos dentro desta comunidade", conta o pesquisador cearense. Ele defende o brincar como um instrumento de aproximação da criança com a natureza, com suas raízes e com a história do seu povo. O que se dá, naturalmente, quando ela está inserida no contexto comunitário. No entanto, ele reconhece que esta vivência é mais fácil acontecer nas comunidades rurais: "nas cidades, onde as crianças estão inseridas na indústria do brincar é mais difícil distanciá-las do consumo. Mas é possível não dar somente esta opção para as crianças", alerta. "Não sou contra a televisão, os jogos eletrônicos ou os brinquedos de plásticos. O problema está na exposição excessiva da criança a estes conteúdos prontos. Elas não podem é viver em função disto", afirma. Para ele, este contato com conteúdos e produtos estruturados, como livros infantis com muitas imagens, brinquedos em miniatura, por exemplo, diminuem a capacidade criativa da criança e a possibilidade de produzir seu próprio repertório imagético. "Quando a criança vive a natureza imaginária com plenitude, ela acessa campos do conhecimento humano de uma cultura que vem se formando ao longo dos tempos da história dos povos. A imaginação se vincula a esta cultura humana, mais arraigada à vida e às raízes".

Fonte: Diário do Nordeste. Espada de Fogo: em noites de lua, pais e filhos acendem uma fogueira no terreiro, na comunidade da Serra do Lajedo, para brincar, construindo a herança lúdica do local. Fotografia Gandhy Piorsky.

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