quarta-feira, 6 de abril de 2011

Patrimônio dilapidado

A cobertura vegetal de Fortaleza foi destruída em cerca de 90%, entre 1968 e 2003, conforme o Inventário Ambiental da Cidade, um processo iniciado com a expansão de seus espaços urbanos. Há trinta e cinco anos, a cidade possuía 66% de áreas verdes; há sete anos, decaiu para apenas 7%. Onde havia grandes manchas verdes, como na Vila União, na Mata do Fonseca do Montese, em Parangaba, na Maraponga, na Lagoa Redonda e no antigo areal da Aldeota, ocupado por cajueiros nativos, a mão humana se encarregou de pôr abaixo para possibilitar a construção de moradias e de centros diversificados de atividades produtivas.

Embora tenha sido beneficiada por inúmeros planos diretores, a evolução urbana da Capital não seguiu suas diretrizes, subestimando a relevância do elemento verde como fator de preservação do clima, das condições de habitabilidade e de embelezamento. Com isso, a qualidade de vida do residente caiu drasticamente.

A maioria das 60 lagoas situadas no espaço físico da cidade foi aterrada, suas várzeas desordenadamente ocupadas e o asfalto impermeabilizou o solo, de tal modo a comprometer o lençol freático. Os loteamentos nem sempre cumpriram as disposições de destinação de áreas verdes para tornar o ambiente habitável.

O melhor exemplo das distorções situa-se na parte de maior volume de edificação da cidade: a Aldeota. No traçado oficial do bairro, compreendendo as Ruas João Cordeiro e Frei Mansueto, Padre Valdevino e Avenida Dom Luís, só há espaço para a Praça Portugal. A expansão acelerada dessa região negligenciou as reservas destinadas aos equipamentos públicos. A cidade se tornou uma armação de concreto.

A comprovação do descaso para com o meio ambiente está documentado no estudo "Fortaleza em números", editado pela própria Prefeitura. Nele está explicitada a área global de 786 hectares destinados a praças, áreas verdes, áreas livres e parques. Aponta o levantamento que, desse total, 335 hectares, ou seja, 42%, estão invadidos. A gestão municipal foi diligente em 240 hectares (30%), ocupando-os de forma racional. Além desses, 31 hectares foram destinados a entidades públicas e 46 hectares ocupados com usos diversos.

A dilapidação do patrimônio público chegou ao ponto da apropriação irregular de áreas nobres, promovida por terceiros, mediante a instalação de postos de gasolina, restaurantes, lanchonetes e até de outras atividades ilegítimas. Ocorrem também desvios como a utilização do polo de lazer construído no entorno da Lagoa de Parangaba como vitrine de comercialização de veículos, com uma feira semanal.

A Organização Mundial da Saúde recomenda a oferta de 12 m ² de área verde por habitante para o equilíbrio entre o oxigênio e o gás carbono. Fortaleza só oferta 4m² por habitante. A eliminação do verde se transformou em hábito, e a recuperação do meio ambiente continua uma meta ignorada. Ressalta-se a necessidade, não só de parar essa escalada destrutiva, como de se começar a executar o Plano de Arborização, que teima em não sair dos gabinetes burocráticos.

Fonte: Editorial/ Diário do Nordeste

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