quarta-feira, 18 de junho de 2008

Matusalém e a Via Campesina

  • Um artigo excelente artigo da Jornalista Atenéia Feijó, publicado no Blog do Noblat, em 16/Junho/ 2008. Reproduzido unicamente para divulgação. Direitos autorais reservados.

Cientistas israelenses conseguiram fazer germinar uma semente de 2 mil anos e ressuscitaram, assim, uma palmeira extinta. Assombroso.

Esta notícia me remeteu à Via Campesina. Um movimento internacional que coordena organizações de pequenos e médios agricultores, trabalhadores rurais, comunidades indígenas e negras das Américas, África, Ásia e Europa. Graças à globalização da mídia, o movimento tem tido bastante visibilidade no Brasil. Junto do MST.

Em sua cartilha, a Via Campesina proclama-se responsável pela biodiversidade da agricultura na Terra. E, a partir daí, dita ideologias e normas de vida para o mundo inteiro. Condena e parte alucinadamente para a destruição de pesquisas e qualquer coisa resultante da biotecnologia. Semana passada, programou um de seus ataques em Pernambuco. Camponeses armados de foices invadiram os laboratórios da Estação Experimental de Cana-de-Açúcar do Carpina, onde exterminaram experimentos científicos. A estação é mantida pela Rede Inter Universitária para Desenvolvimento do Setor Sucro Alcooleiro, a Ridesa.

Reconhecida internacionalmente, a Ridesa desenvolve, anualmente, dois milhões de plântulas (embriões) através de hibridizações planejadas. Seu banco de germoplasma contém milhares de espécies genéticas diferentes de cana-de-açúcar do planeta inteiro. Outra coisa, a pesquisa possibilita o estudo de plantio de cana juntamente com outros cultivos. Por exemplo: feijão e arroz. O que minimiza a preocupação com o etanol virar concorrente da nossa comida.
Odeio ditaduras, terrorismo, tortura, racismo, assassinatos, escravidão e pedofilia. Participei muito de protestos e de reivindicações sociais. Sem vandalismo. Dito isto, de volta à Via Campesina. Sou inteiramente a favor dos pequenos e médios agricultores de quaisquer etnias e nacionalidades. Reconheço suas necessidades básicas, entre elas, a educação. O planejamento familiar, também. E por uma razão natural: crescimento demográfico descontrolado acontece em progressão geométrica. Quer dizer, sem controle nunca haverá terra que chegue.
Creio que ainda há espaço para florestas, agriculturas tradicionais e agronegócios se desenvolverem e coexistirem. Ah, sim... ia me esquecendo. Longe da Via Campesina, a palmeira ressuscitada por cientistas foi batizada de Matusalém.

Atenéia Feijó é jornalista e mora no Rio, onde trabalhou no Jornal do Brasil, nas revistas Manchete, Geográfica Universal, Fatos e Fotos, Cláudia e Marie Claire. Embrenhou-se muitas vezes pelos confins deste Brasil, numa época em que não existia telefone celular. Volta e meia sumia na Amazônia de onde voltava com grandes reportagens. É carioca, escritora e avó de Júlia.

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