domingo, 23 de novembro de 2008

A "nova" expansão da Universidade brasileira


Foi definida nos laboratórios do Planalto, um conjunto de medidas para a "nova" expansão da Universidade brasileira. O Programa Reuni pretende ampliar a quantidade de vagas da Universidade pública e isto implica na definição de novos campi universitários em localizações diversas, unicamente por critérios políticos, de certa forma questionáveis. Sem considerar que a Universidade tem que ser um centro de excelencia em ensino, pesquisa e se possível extensão.

Aqui no nosso caso, no Estado do Ceará, foi criada a UNILAB/ Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira, que terá sede em Redenção, município a 66 quilômetros de Fortaleza. 50% das vagas serão destinadas a alunos oriundos da África. Estamos aqui a 4 horas de Cabo Verde, nosso portão de entrada à África. Redenção a cidade escolhida pra sediar a Universidade tem aproximadamente 15.000 habitantes em um município de uns 28.000. A escala urbana de Redenção não tem suporte físico para receber um equipamento deste porte.

A iniciativa é louvavel. Finalmente o Brasil pretende criar diretrizes de integração com o continente africano e com os países de língua portuguesa ali localizados, com os quais temos uma forte identidade cultural - Cabo Verde, São Thomé e Principe, Angola e Moçambique, extensível a partes da Nigéria, notadamente à original "comunidade brasileira" de Lagos, originária de "retornados" após o ato libertário de 1888.

Entretanto o mesmo vai ser colocado lá sem nenhum estudo de impacto urbano, sem se pensar na acessibilidade e mobilidade, no suporte à moradia de professores, funcionários e estudantes e outros serviços urbanos necessários.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Redenção - PDDU Redenção - foi feito há aproximadamente uns 10 anos atrás unicamente para cumprir uma exigencia do Banco Mundial quanto a dotação de financiamento para desenvolvimento urbano dos municípios pólo do Estado, o que infelizmente Redenção ainda não é. E da lá para cá absolutamente nada foi implantado do que se recomendou, a não ser um pequeno acesso urbanizado a um monte para peregrinação religiosas.

Hoje Redenção é um lugar de passagem a quem demanda outras situações do Estado, como as terras altas do Maciço de Baturité. Anteriormente o município foi segmentado em dois unicamente - Redenção e Acarape - unicamente para atender acertos políticos das "elites dominantes" locais.

Entretanto nesta situação em estado inercial, no presente, vai ser implantada em menos de dois anos, uma Universidade com aproximadamente 10.000 alunos, o que significa um conjunto com aproximadamente 800 professores e um corpo funcional equivalente, com as exigencias de dinamica urbana e vida pessoal que estas pessoas demandarão. Metade destes alunos serão oriundos de países africanos com dificuldades de adaptação ao nosso país, por questões de cultura própria.

Detalhes: Redenção não tem um único restaurante capaz de servir mais de 150 refeições período. Possui um único posto de abastecimento de combustíveis. Não existem hospitais ou mesmo centros de resolutividade médica de qualquer porte, na cidade. E se eu não me engano, nenhuma agencia bancária. Não existe saneamento urbano na sede municipal e o abastecimento de água tem carencia de expansão para atender a demanda local. Não existe nenhum roteiro de intervenções proposto para aquele município e o vizinho Acarape organizado pelo Governo do Estado através da Secretaria das Cidades.

Mais um caso para se pensar. E convém notar que estamos sempre correndo atrás do fato consumado. Carta aberta enviada às principais colunas dos jornais locais de Fortaleza, pelo Professor/ Arquiteto José Sales. Fotografia de Carlos Malino http://www.flickr.com/photos/malinosphotos/2919480631/

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