sábado, 20 de junho de 2009

Multinacionais e a degradação florestal


Foi lançada nesta semana em Londres uma iniciativa que pretende desvelar a rede intricada que existe por trás do desmatamento de florestas tropicais em todo o mundo. O Forest Footprint Disclosure Project, algo como Projeto de Divulgação da Pegada Florestal, será uma das mais amplas tentativas já realizadas de mapear a relação entre o comércio global de commodities e a perda de biodiversidade. Para isso, 150 das maiores multinacionais de todo o mundo receberão questionários onde serão convidadas a abrir dados sobre a origem de suas matérias-primas.

O Governo do Reino Unido é um dos principais financiadores da empreitada. O quadro que sairá do levantamento certamente não será dos mais bonitos. Mesmo com os primeiros resultados prometidos para janeiro de 2010, o projeto liberou no dia de seu lançamento um pequeno documento onde lista quais são as principais ameaças às florestas tropicais. O estudo demonstra que seis commodities globais - soja, óleo de palma, carne bovina, couro, madeira e biocombustíveis - estão impulsionando a destruição das regiões de maior riqueza biológica do planeta.

“Queremos mostrar às empresas os riscos envolvidos em seus negócios ao explorarem os recursos naturais”, argumenta Andrew Mitchell, chefe do comitê gestor do Forest Footprint Disclosure. Segundo ele, ao continuarem a consumir cegamente produtos das florestas nativas, existem três principais riscos que as grandes multinacionais parecem não enxergar. O primeiro deles é a perda de investidores, como grandes fundos de pensão e gestores de ativos. O segundo é o do aumento do preço da matéria-prima graças a restrições dos governos. E o terceiro é o da perda de reputação frente aos consumidores.

“E existe um quarto risco, mais difícil de entender”, continua Mitchell, “É o risco de que ao contribuir para a destruição das florestas, a companhia coloque em jogo o seu próprio negócio, pois são as florestas que fornecem regulação do clima, água potável, polinização e tantos outros serviços ambientais”, ressaltou.

É com essa visão que o projeto da “pegada florestal” conquistou alguns dos maiores investidores do mercado financeiro. Doze gestores de fundos, com ativos estimados em 1,3 trilhão de dólares, já anunciaram seu apoio ao Forest Footprint Disclosure. Isso quer dizer que, quando receberem o questionário pedindo informações sobre suas matérias-primas, muitas multinacionais estarão sendo observadas por alguns dos maiores compradores de ações do planeta.

“O projeto deve ajudar as companhias a pensar e contabilizar seus impactos e sua dependência das florestas. Isso certamente vai influenciar decisões sobre o acesso aos recursos naturais. Abrir informações implica em mudanças nas permissões de uso e de licenças para operar, seja através de medidas tomadas por investidores ou por autoridades”, pondera Pippa Howard, diretora de Parcerias Corporativas da Fauna e Flora Internacional, uma das maiores entidades ambientalistas do mundo e membro do comitê do Forest Footprint Project.
As informações geradas pelo relatório ajudarão a Fauna e Flora a continuar seus estudos sobre a dependência de diversos setores da economia de serviços ambientais. Em parceria com o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (UNEP), a ong tem o projeto Valorando a Natureza, onde estuda 31 companhias de setores diversos como fumo, alimentação e varejo.

O lançamento do Forest Footprint Disclosure foi mais uma demonstração de que as empresas definitivamente entraram na linha de tiro das ações de combate ao desmatamento e ao aquecimento global. Depois da repercussão mundial do relatório do Greenpeace mostrando que a cadeia produtiva de carne e couro no Brasil estava intimamente ligada ao avanço do desmatamento na Amazônia, o projeto deve elevar ainda mais a pressão sobre os setores que tem uma alta pegada florestal.

Pippa Howard, da Fauna e Flora Internacional, acredita que ações como essa terão também um impacto sobre os consumidores. Ela lembra que recentemente a Unilever foi duramente criticada no Reino Unido por utilizar óleo de palma extraído de plantações na Indonésia para fabricar o sabonete Dove. Já Andrew Mitchell cita o caso de consumo de carne em todo mundo, questionando se não seria possível às pessoas reduzirem seu consumo para diminuir a demanda por gado criado na Amazônia. “Como consumidores, estamos todos juntos”. Clique aqui e confira a versão completa do relatório do Forest Footprint Disclosure Project

Matéria do jornalista Gustavo Falheiros para O ECO. Vale a pena conferir em forma completa em http://www.oeco.com.br/reportagens/37-reportagens/21961-multinacionais-e-a-degradacao-florestal

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